O milho (Zea mays L.), é fundamental para a agricultura e economia brasileira. Atualmente, o país está classificado entre os três maiores produtores mundiais. Esse cereal é cultivado em todas as regiões do país e em diferentes épocas do ano. Espera-se para a safra 2022/23 um crescimento de 12,5% comparado à safra anterior. Esse aumento ocorrerá pelo crescimento da área plantada e produtividade, e consequentemente trará maiores desafios para manejo fitossanitário, principalmente de insetos-praga como a cigarrinha do milho.
A enorme expansão da área cultivada com milho safrinha, o cultivo em diferentes épocas do ano (três safras) e a dificuldade de controle do milho voluntário, contribuiu muito para o cenário atual de elevada pressão e ocorrência da Dalbulus maidis e do complexo de enfezamentos em praticamente todo o território nacional.
Cenário da cigarrinha e o complexo de enfezamento
Importante destacar que o complexo de enfezamento sobrevive ou na praga (Dalbulus maidis) ou no hospedeiro, sendo o milho o único hospedeiro das doenças. Nesse contexto, reduzir a presença do milho voluntário/tiguera no meio da soja é uma das principais ferramentas no manejo da doença. No entanto, o uso de tecnologias como milho RR, e agora mais recentemente, a tecnologia Enlist, tem ao mesmo tempo, ajudado ao produtor a fazer o manejo de plantas daninhas e dificultado o manejo do milho voluntário, ajudando na manutenção da praga e da doença a nível de campo.
A cigarrinha, Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Figura 1), pode causar danos diretos à cultura do milho, mas é reconhecida por ser vetor de molicutes e viroses, microrganismos patogênicos causadores de doenças sistêmicas em plantas que afetam diretamente os tecidos do floema e interferem na translocação de fotoassimilados.
Destacam-se o Spiroplasma kunkelli (enfezamento pálido), Phytoplasma (enfezamento vermelho) e o vírus do raiado fino (MRFV). A contaminação dos insetos ocorre quando se alimentam de plantas infectadas, dessa forma, o patógeno se multiplica nos tecidos do inseto e acumulam-se nas glândulas salivares antes de serem transmitidos para as plantas sadias.
No campo, esse inseto é facilmente reconhecido, ficam localizados no cartucho do milho, apresentam coloração palha e medem aproximadamente 4 mm de comprimento e 1 mm de largura quando adultos. O ciclo biológico da cigarrinha depende diretamente das condições climáticas e dura aproximadamente 24 dias. Esse inseto possuiu fase de ovo, ninfa e adulto e sua longevidade pode chegar a 90 dias.
Apesar de existir um período de latência (período no qual a cigarrinha ainda não está apta a transmitir as doenças) do complexo de enfezamento, é impossível ao perceber a presença da Dalbulus maidis, dizer se a mesma está ou não infectada pelas doenças. Ainda, após meia hora de contato se alimentando da planta, ocorre a transmissão das doenças. Por isso, a recomendação de manejo é: presença ou ausência da praga.
Até porque, diferentemente do dano de uma spodoptera, diabrótica, no qual é possível visualizar os danos de desfolha, os danos do complexo de enfezamento somente serão perceptíveis ao olho nu após 30 a 40 dias da infecção, momento no qual o controle é praticamente inviável, uma vez que o dano já estará feito.
Como identificar uma planta infectada
De uma forma geral, plantas infectadas por molicutes e viroses têm seu porte reduzido, diminuição do espaço entrenó, multiespigamento, redução do tamanho de espiga e número de grãos e em casos mais severos a morte precoce das plantas. A palavra enfezamento representa clorose internerval, que inicia na base das folhas no sentido da ponta da folha. Também se tem associado a cigarrinha muitos problemas de doenças de podridão de colmo e o acamamento das plantas. Isso ocorre porque uma vez debilitada e com o acúmulo de carboidrato solúvel na base do colmo, os patógenos necrotróficos presentes na lavoura, tem uma facilidade de infecção das plantas, resultando em graves problemas de acamamento.
Importante destacar que quanto antes a planta de milho for acometida pela cigarrinha infectada, maior será o nível de dano ocasionado. Por isso, o manejo nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura é muito importante. O maior cuidado deve ser adotado entre a emergência e a 6ª/7ª folha. Em escala temporal, estamos falando entre 22 a 25 dias de ciclo. Isso porque, os molicutes irão se desenvolver nos vasos do floema da planta, interrompendo o fluxo de fotoassimilados, comprometendo a formação dos componentes de rendimento desde o início do ciclo da planta.
Manejo tardios podem se fazer necessário, especialmente devido aos problemas de migração da praga de áreas mais velhas para áreas mais novas. Ainda, alguns problemas de fumagina têm sido relatados na região da BR 163 na safrinha 2021/22.
Em relação a experiência com o manejo químico da praga, tem-se observado de forma geral um efeito de “choque”, ou seja, um controle por contato, no entanto, de uma forma geral, os inseticidas apresentam um pequeno efeito residual (16 a 36 horas), o que não tem sido suficiente para controlar as cigarrinhas.
Na maior parte das regiões produtoras de milho, tem-se feito entre 5 a 6 aplicações de inseticidas para controle da praga. Ainda, em campos de produção de semente, normalmente faz-se mais de dez aplicações com inseticidas químicos visando o controle de cigarrinha. Isso é preocupante, uma vez que a elevada pressão de seleção, pode resultar no surgimento de casos de resistência.
Manejo biológico no controle da cigarrinha do milho
Nesse cenário, o uso de controle biológico tem-se demonstrado uma excelente ferramenta no sentido de dar sobrevida ao uso dos inseticidas, ou seja, retardar sua reentrada de dois para 6 a 7 dias, bem como, se mostrado muito eficiente no manejo direto da praga.
Essas novas ferramentas (controle biológico) são consideradas excelentes alternativas no manejo integrado de diversas pragas, entre elas D. maidis. O controle biológico oferece mecanismos complementares e únicos de ação, que reduzem a pressão de populações resistentes, aumenta o período de controle (residual), potencializa a ação de produtos químicos e oferece ao produtor ferramentas seguras ao meio ambiente e à saúde humana.
Portanto, é necessário entender a biologia, os danos, a dinâmica populacional, forma de migração e as ferramentas de controle biológico que podem ser associadas ao manejo com produtos químicos. Buscando minimizar os impactos causados por esta importante praga da cultura do milho, o uso de tecnologias complementares com fungos entomopatogênicos e bactérias específicas do gênero Pseudomonas, são realidades no manejo integrado desse inseto, que diminuem os danos causados e oferece, para os produtores rurais, maior tranquilidade e segurança no desafio de produzir.
Importante que todos estejam imbuídos no manejo dessa praga, a um ponto até de dizer que não há medida isolada que irá dar conta do problema. O manejo deve ser comunitário e todas as estratégias devem ser adotadas, desde redução da presença de milho voluntário, escolha de híbridos tolerantes, janela de semeadura, uso de inseticidas químicos e adoção de controle biológico.
BIOTROP – Semeando biológicos, cultivando Vida!
Autores:
Msc. Kennedy Santos Gonzaga (Doutorando – UFPB; Desenvolvedor de Mercado BIOTROP – Regional Nordeste)
Dr. Antônio Carlos Leite Alves (Coordenador de Pesquisa – Multcrop/Foco)
Referências:
CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos, Brasília, DF, v. 10, safra 2022/23, n. 1º, primeiro levantamento, outubro 2022.
Foresti, Josemar, et.al, “Spatial-temporal Distribution of Dalbulus Maidis (Hemiptera: Cicadellidae) and Factors Affecting Its Abundance in Brazil Corn.” Pest Management Science 78.6, 2022.