Crise, colapso ou tanto faz: o que importa é nosso papel em tudo isso

Por André Luis São Pedro Leal

Das diversas publicações que tenho lido neste momento, fora a participação nas conversas, lives e webinars, a pergunta posta que mais me inquietou foi: estamos diante de uma crise ou de um colapso? E, de fato, é uma excelente pergunta sobretudo porque a situação que se nos apresenta, além de inédita, toma de assalto uma sociedade global atônita, com crise em suas democracias e com um excesso de informação nas plataformas que nos leva mais à desinformação do que ao conhecimento.

Aqui, as respostas simplistas precisam ser afastadas porque o problema é bastante complexo. São muitas nuances, diversos aspectos envolvidos e, o mais importante, vidas sendo atingidas em cheio. Paralelo a isso, sinais do esgotamento de um modelo econômico de concentração de renda e riqueza que as gerações de hoje precisam repensar. Ou o preço negativo do WTI na cotação futura de 20 de abril indica algo diferente disto?

Outro dia ouvi que a ansiedade só traz para o presente os problemas do futuro, geralmente nos pressionando a tomar decisões de maneira errônea. Gostaria de ser propositivo na condução deste texto, contribuindo nas reflexões e fazendo menos barulho. O primeiro ponto de reflexão é que precisamos aceitar as limitações que nos envolvem e, sim, isso significa que alguns de nós perderá pessoas queridas. Muito fatalista da minha parte? Sim, até porque um de nós pode ser vítima. Além disso, o vírus não tem estrutura ética e moral para escolher quem levará.

Nova reflexão: que papel assumiremos aqui para contribuir com o pós (seja crise, seja colapso). Fato é que tudo isso passará, nenhuma novidade aqui. Seguir as recomendações médicas e das autoridades públicas neste momento de isolamento social é uma obrigação, nunca uma opção. Mas sempre virá o pós. Como vamos contribuir? Já se perguntou sobre isso? Você será chamado a contribuir. Cada um de um jeito, cada qual com o seu estilo, mas com capacidade de contribuir com o pós, seja ele com padrões alterados ou com retorno de sistemas do passado.

E, na área empresarial, fico me perguntando qual será a minha contribuição como executivo de finanças. Porque se antes o caixa era rei, agora ele é o supremo ditador do nosso cotidiano. E quando o tema é caixa, e a sua eficiência, o financeiro é chamado ao protagonismo. Verdade que o caixa é de todos, do CEO ao gestor da produção, mas é esperado que o financeiro consiga, via ferramentas de projeção e de uma visão sistêmica mais apurada, apontar quando, ou se, haverá problema. Seja capaz de aumentar o nível de tensão organizacional pela interpretação do caixa da companhia. E a contribuição não se restringe ao caixa. Como um timoneiro experiente, o financeiro precisa ajudar a organização a repensar os novos caminhos. Ousar nas proposições, mas mantendo os pés no chão sobre a capacidade de entrega delas.

E, sempre, e mais do que nunca, precisamos entender que operamos em um ambiente integrado, um ambiente em cadeia, no qual a preservação dos elos é de suprema importância para que o pós seja viável para todos. Estamos sendo chamados, em todas as esferas, a atuar não somente com responsabilidade, mas com empatia, colocando em nosso repertório palavras antigas e que estavam saindo de moda, como generosidade e bondade. Afinal de contas, sairmos todos da crise será melhor do que se só saírem alguns poucos. Pense nisso também.


*André Luis São Pedro Leal
é CFO na Biotrop e coordenador do Comitê de Finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (IBEF-PR).

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